Tuesday, October 18, 2005

Circunstâncias especiais

Há que ter em conta as circunstâncias. Porque são importantes. Em cada circunstância há, digamos, circunstâncias que a fazem única. Mesmo que sejamos os mesmos e as circunstâncias sejam as mesmas, há sempre uma circunstância que faz a diferença. Pode dizer-se, digo eu, que em cada circunstância temos oportunidade de encontrar circunstâncias que a tornam diferente. Mesmo que haja circunstâncias que se repetem.
Em qualquer circunstância preocupo-me em ser coerente. Posso dizer que espero que qualquer circunstância seja igual a outra circunstância qualquer, para mostrar que sou sempre o mesmo, mesmo que as circunstâncias sejam diferentes. Mas sei que as circunstâncias não são as mesmas. E é essa circunstância que me preocupa. Porque se eu sou o mesmo em qualquer circunstância então eu não sou o mesmo em cada circunstância. Se eu fosse o mesmo numa circunstância qualquer haveria de, dependendo da circunstância não ser o mesmo.
Vamos supor, por absurdo, que em circunstâncias idênticas o meu comportamento tinha diferenças assinaláveis. Isso quereria dizer que nesse tipo de circunstâncias eu estaria a ser eu umas vezes e a ser outro outras vezes. Porque se as circunstâncias são as mesmas, então há alguma coisa que muda que não as circunstâncias, o que não faz sentido, como queríamos demonstrar.
Podemos então dizer que desde que se repitam as circunstâncias, o comportamento é único. Mas, se se der o caso de haver circunstâncias que mudem, então estaríamos à espera que os comportamentos fossem diferentes em cada circunstância.
E, de facto, é isso que acontece quando as pessoas não são coerentes. Mas, se se dá o caso de se ser coerente, então mesmo em circunstâncias diferenciadas o comportamento há-de ser o mesmo da circunstância anterior. Por outro lado, um comportamento que seja visto como coerente em todas as circunstâncias, mesmo nas circunstâncias mais extremas - o que não é forçoso - será sinal de uma grande insensibilidade às circunstâncias o que, circunstancialmente, me parece, digamos assim, pouco humano.
Não queria chegar a esta conclusão. Porque em nenhuma circunstância me ocorreria pensar que a coerência não é uma coisa boa em qualquer circunstância e ousar opô-la à sensibilidade. Pode dar-se o caso de em determinadas circunstâncias a sensibilidade não ser uma coisa boa mas por agora prefiro abandonar temporariamente, e nesta circunstância, a coerência.

prólogo

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